Prestes a matar um

O cansaço bate assim que entro no ônibus. Viajar de ônibus é uma coisa misteriosa: você mal entra no veículo e parece que um intenso sono bate não importa o quanto você esteja descansado. Talvez Morpheus, no meio da desconjuntura dos planos, e na concorrência de tantos soníferos e medicamentos e acontecimentos que já nos deixam em torpes, viu como um filão para manter sua subsistência num bico nas viações de ônibus intermunicipais.

O soninho de ônibus vai bem. É sentar, se ajeitar da melhor forma possível e dormir, eu fingir que dorme.

Do contrário, o estresse com a senhora botando os papos em dia com a família pelo celular, o bebê chorando e a mãe cantando para acalmar a criança ou aquela típica pessoa ouvindo música sem fones é por demais desestabilizadora.

Ouvir música sem fone é, certamente, enfuriante. Não há torpor que segure os seus nervos de se concentrar de forma homicida na destruição mental do ser que perpreta contra você tamanha desumanidade. Não fosse a meditação ter sido uma resolução de ano-novo, cabeças iam explodir facilmente com as energias carregadas.

Assim, para evitar que os estofados encardidos fiquem ainda mais puídos ao se adicionar a eles grandes derramamentos de sangue, que o ódio contra tamanha afronta à liberdade de não ser obrigado a ter seu ouvido invadido proporcionaria, o trabalho de um zé pestana é muito útil. Morpheus, portanto, faz um trabalho humanitário, sem qualquer dúvida.

Que esse momento de sonolência e amortecimento do humor dure até depois, quando deixar a temperatura amena do ar-condicionado cheio de ácaros, para o ambiente infernal do meu destino.

Qualquer coisa ligo a Enya no celular e já medito pela rodoviária mesmo. Que alguém me proteja do fuzilamento dos ouvidos próximos.

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