Quem não deve, não teme

 ㅤㅤAs últimas semanas foram marcadas por um intenso burburinho em torno de um tema que ganhou destaque entre muitas pessoas: o Pix. Sem desmerecer suas vantagens e facilidades, o debate se relacionou a uma medida que deveria ser vista como um procedimento padrão. Trata-se de uma normativa que exige, tanto de grandes bancos quanto, a partir de agora, de outras instituições financeiras, a inclusão de informações de valores nas declarações já previstas pela legislação como forma de fortalecer a fiscalização tributária.

ㅤㅤA polêmica foi catalisada por um vídeo deepfake atribuído ao ministro da Fazenda Fernando Haddad, no qual ele supostamente defendia absurdos, como a taxação de pets. Essa informação falsa foi combinada à ideia equivocada de que haveria uma nova taxa ou imposto sobre o Pix. Conforme já esclarecido por órgãos oficiais não houve qualquer criação de imposto ou taxa específica sobre o uso do Pix.

ㅤㅤO que chama atenção é que muitos dos mais preocupados com uma suposta cobrança sobre movimentações acima de R$ 5 mil (para pessoas físicas) e R$ 15 mil (para pessoas jurídicas) — valores que sempre exigiram maior monitoramento pelas instituições financeiras — são também defensores de discursos extremistas, como “bandido bom é bandido morto”. O curioso é que essas mesmas pessoas parecem ignorar que sonegar impostos é um crime sério[, com impacto direto nas políticas públicas e nos investimentos em saúde, educação e segurança].

ㅤㅤA contradição é clara: enquanto justificam a violência policial contra sujeitos rendidos (que em São Paulo parecem ser os alvos favoritos), ignoram que o sonegador fiscal também é um criminoso. Sonegadores prejudicam diretamente a população ao drenar recursos que deveriam ser destinados ao bem comum, impactando a qualidade de vida de toda a sociedade. Parece algo irrelevante?

ㅤㅤAlém disso, práticas ilegais, como tráfico de drogas, contrabando e vendas de produtos falsificados, se beneficiam da falta de fiscalização financeira. Facções criminosas — que estudiosos têm chamado de “McMáfia”, por operarem mais como franquias mafiosas que organizações centralizadas — exploram brechas no sistema financeiro formal para lavar dinheiro. Por isso, a fiscalização de ferramentas como o Pix, cartões de crédito e fintechs é crucial no combate a essas práticas.

ㅤㅤA fiscalização do fluxo financeiro é fundamental para garantir o cumprimento das responsabilidades tributárias, obrigações que um trabalhador CLT, um servidor público ou um empresário honesto não consegue evitar. No fim, a frase “quem não deve, não teme” resume bem a questão: quem cumpre suas obrigações fiscais não tem razão para se preocupar. Já quem sonega impostos está cometendo um crime e deve responder por seus atos como qualquer outro bandido.

ㅤㅤPor isso, é essencial que, antes de acreditar e reagir a informações falsas, possamos refletir sobre o impacto de nossas atitudes. Fiscalizar o fluxo financeiro não deve gerar receio em cidadãos de bem, mas ser entendido como uma ferramenta para garantir que as instituições estejam trabalhando em prol do bem-estar coletivo.

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