Por mudanças efetivas e profundas

ㅤㅤQuando buscamos mudanças em nossa vida nem sempre a encontramos totalmente pronta e formatada. Pelo contrário, só vemos partículas de possibilidades que se avizinham e por nossa própria força é que precisam ser ajambradas as diferentes maneiras de estruturar um novo caminho a trilhar. A despeito dessa característica quase “quântica”, não se trata de uma dimensão hermética e de difícil compreensão pois é de conhecimento geral que qualquer mudança só vem por meio de uma ação. Não é apenas um querer como insistem os coaches do mindset, é um enfrentamento, pois poucos queremos dispender esforços para entrar em ação — seria isso igual a Primeira Lei de Newton? Um corpo parado tende a ficar parado? — porque apesar de o resultado de nossa ação ser almo almejado, ô preguiça que dá de agir.

ㅤㅤIsso pode ser uma verdade tanto para as metas de ano novo quando para assuntos da História que exigem de nós uma ação contundente e definitiva, como é o caso da condenação exemplar dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e quaisquer outros que planejam ou agem contra o regime democrático de direito.

ㅤㅤMesmo que existam forças que queiram deixar tudo como está e passar uma borracha no que aconteceu e simplesmente aprova uma anistia, precisa-se agir de maneira mais enérgica para realmente empreender uma mudança que coiba o golpismo que está arraigado na história da nossa sociedade brasileira. Precisa-se levar em conta o cenário revelado pela pesquisa realizada pela Quaest e divulgada neste domingo (07/01), na qual se revela que 94% das pessoas desaprovavam as invasões golpistas aos prédios dos Três Poderes acontecida há 2 anos — invasão esta que não era apenas fruto de uma mobilização espontânea, mas parte de um projeto maior que buscava usar a mobilização social como propulsora para se justificar um golpe, como ficou claro na investigação da Polícia Federal que, pela primeira vez na nossa História, prendeu um general quatro estrelas do Exército, Walter Souza Braga Netto, por interferir na investigação da tentativa de golpe frustrada por ele chefiada.

ㅤㅤSe quisermos livrar da “mentalidade” brasileira a concepção que vem desde a Proclamação da República de que golpes “fazem parte”, é preciso empreender esse esforço de pelo menos dessa vez condenar de maneira exemplar qualquer indivíduo que alimente ideais golpistas — afora os que defendam ideias absurdas como transformar o 8 de Janeiro em “Dia do Patriota”, — porque só assim inauguraremos um novo momento na nossa democracia, demonstrando sua solidez e firmeza de princípios. Do contrário, não será estranho de se imaginar estarmos, daqui a certa quantidade de anos, comemorando que outra atriz brasileira como Fernanda Torres ganhou um prêmio internacional por uma obra que transforme em narrativa a dor de uma vítima de um regime autoritário instaurado entre nossas fronteiras — aliás, o filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, deve servir de exemplo como a anistia mantém feridas abertas até hoje na vida de muitas pessoas que sofrem sem saber o que fez o Estado contra seus entes queridos desaparecidos durante o último Regime Militar.

ㅤㅤQue a mudança buscada em 2025 não se restrinja aos quilinhos a serem perdidos ou ao bem a ser adquirido, mas que aproveitemos as partículas da mudança que se nos oferece o momento histórico que vivemos para também extirpar de vez práticas que criam nódoas cinzentas em nossa História. Desse modo, vamos agir efetivamente para construir uma vida melhor com mudanças efetivas e profundas no nosso ser individual e também social.


Postar um comentário

0 Comentários