
ㅤㅤNas últimas semanas, testemunhamos debates intensos em duas áreas centrais da sociedade — Segurança Pública e Educação —, ambos focados no papel da tecnologia.
ㅤㅤNa Segurança Pública, a tecnologia tem se mostrado essencial tanto para denunciar abusos quanto para demonstrar indignação diante de situações esdrúxulas. Exemplos recentes incluem um homem rendido jogado de uma ponte e um menino de 4 anos assassinado por um tiro durante uma operação policial enquanto jogava futebol com o irmão. Infelizmente, esses episódios, que deveriam ser exceções, têm se tornado cada vez mais frequentes no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), onde a segurança pública parece não estar conectada a um senso de justiça, mas sim de justiçamento. Nesse modelo, os agentes assumem, em minutos, os papéis de investigador, juiz e executor, decidindo quem vive e quem morre — seja por realmente praticar um crime, seja por portar uma muleta confundida com arma, ou mesmo por roubar itens de valor baixo, como sabão em pó, em vez de milhões, como vimos em escândalos como do caso Americanas, no qual, até aqui, ninguém foi preso.
ㅤㅤNeste contexto, a tecnologia pode atuar como ferramenta de prevenção e proteção. Um exemplo é o uso de câmeras corporais com ativação automática e registro contínuo, implementado durante o governo João Doria (ex- PSDB). Essa iniciativa demonstrou proteger tanto os policiais quanto a sociedade, pois torna os agentes mais conscientes de suas ações e coíbe práticas impróprias. Felizmente, a recente decisão do ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determina a retomada do uso desse tipo especial de câmera na Polícia Militar de São Paulo. Aqui, a tecnologia reafirma seu papel como aliada de uma segurança pública justa e realmente protetora.
ㅤㅤPor outro lado, na Educação, vemos o efeito contrário: a digitalização excessiva tem prejudicado o processo de aprendizado. Na última semana, foi sancionada a Lei nº 18.058, de 05/12/2024, fruto de um projeto da deputada estadual Marina Helou (Rede Sustentabilidade), que proíbe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos não apenas em sala de aula, mas em qualquer dependência escolar. (O aluno que optar por levá-lo, em 2025, à escola — municipal, estadual ou mesmo particular — deverá deixá-lo o tempo todo guardado e sob sua total responsabilidade. Ou seja: melhor deixar em casa.)
ㅤㅤNos últimos anos, tem-se observado uma defesa acrítica do uso de tecnologias e plataformas digitais no ensino — muitas vezes promovida por instituições que lucram com a venda desses sistemas e de capacitações para os professores utilizá-los. Após mais de 20 séculos nos quais o professor ocupou o papel central na condução do aprendizado, sustentado por um modelo que alavancou o desenvolvimento da sociedade, agora vemos o docente subordinado a um regime de atenção próprio das plataformas digitais onde os conteúdos são breves, intensos em estímulos e totalmente rasos. Assim, ninguém aprende — e alguns governantes parecem adorar essa perspectiva. Por isso, medidas como a restrição ao uso de celulares resgatam a escola como espaço de aprendizado e interação social direto, onde os estudantes devem focar nos diferentes âmbitos acadêmicos e socioemocionais e não serem transportados, via dispositivos, para outras realidades.
ㅤㅤNo passado, conversas ou cochilos atrapalhavam o aprendizado, mas ao menos mantinham o aluno no ambiente escolar. Hoje, com celulares e, sobretudo, fones de ouvido, muitos ficam completamente alheios ao que acontece à sua volta. A tecnologia só é válida se fundamentada em princípios pedagógicos sólidos. Até o momento, estudos acadêmicos sérios (e não de instituições que veem em propostas digitais mirabolantes uma fonte de renda milionária) indicam que o modelo clássico — professor, livro e estudo dedicado — ainda é o mais eficaz para promover o aprendizado e preparar os jovens não apenas para lidar com as próprias tecnologias, mas para criar soluções inovadoras para os problemas sociais.
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